Dia desses, eu estava deitada e olhei para aquele lado esquerdo logo ali. Naquele instante, voltei num tempo nem tão distante. É doido pensar como pequenas situações podem nos provocar aqueles minutos que nos impactam e mexem tudo por dentro. E aquele momento nos joga naquele tempo hoje ausente e nos faz lembrar do espaço ocupado anteriormente.
O espaço vazio daquele lado esquerdo nem sempre esteve tão presente nessa ausência, nesse silêncio que o mundo nos impôs ao nos deixar trancados do lado de fora e do lado de dentro. Aquele espaço foi ocupado nesse momento do novo. Ele veio com todo esse novo do mundo. Mas ele nem parecia estar mais na memória, antes desse meu mergulho de volta ao tempo em que o tempo, naquele tempo logo ali atrás, fazia sentido. Fazia sentir. E parecia sentir junto.
Mas aí a gente se dá conta de que aquele tempo correu. Por falta da escolha no tempo. Daquele compartilhado por querer. Que, de repente, se torna escolha de um, vazio de outro. E aí a gente se toca do vazio que, antes, existia e que o que a gente queria era preencher. Preenchido. Vivo na presença. E, aos poucos, se estabelece como presença assumida. E depois some. Evapora. E, então, perde o sentido, quase se desfaz no ar. Vira ar. E voa pra longe. Pra onde nem tem mais lugar.
É doido também pensar como esses ciclos são vividos regularmente. Nascem, crescem, envelhecem e morrem. Um morre pra renascer num outro ciclo que se refaz, que se renova nas novidades e pode morrer ou não.
No início, olhei saudosamente aquele espaço ali. Queria a simplicidade de apenas ser e estar. E aí tentei justificar, rever, prever. Até descobrir que aquele vazio poderia estar ali. O espaço era meu. Só meu. E, pra ocupar esse lado, é só merecimento. Fazer por merecer. Merecer.