As pessoas não vão pensar como a gente sempre. Não terão os mesmos desejos. Não vão escolher os mesmos caminhos. Seguirão na direção contrária. Muitas vezes nos deixarão chocados. Quando esse outro não é aquele que nos toca o coração e preenche os espaços que lhe oferecemos na vida, observar e ver que fazem escolhas tão distintas nos parece aceitável. Pode até ser, de certa forma, um pouco mais simples entender que a opção do outro cabe apenas a ele, apesar dos pesares.
Mas quando vem daquele ser que temos a certeza de que a falta do seu apreço nos fará pagar um alto preço no desamor, o assunto é diferente. O mundo quase acaba, a casa praticamente desaba, perdemos até a respiração. O ar nos falta e a sensação é de que o chão se abriu e vamos para um abismo de solidão e não vamos mais nos recuperar. E aí pensamos: como o outro pode fazer escolhas tão distintas? Não éramos almas gêmeas, metades, partes iguais? Dramáticos, sim, com a nossa razão e com a certeza da perda. Doloridos pela ausência e inconformados com a mudança.
Parecíamos ser os mais completos do mundo e o todo mais possível naquele instante da vida em que as escollhas convergiam, em que as escolhas se misturavam e se completavam, em que as escolhas pareciam até simultâneas. Mas eram escolhas. E tudo bem. Porque na vida fazemos escolhas todo tempo. Escolhemos ao longo da vida tudo aquilo o que nosso corpo não faz maquinalmente e tudo aquilo que o nosso desejo nos mostra a cada impulso e descoberta. E ainda assim decidimos pela manutenção do que não temos escolhas porque fazemos boas escolhas para que as coisas permaneçam no seu caminhar.
E ao fim do sentir do outro, a dor virá, a decepção virá, quem sabe o choro também. Tudo bem também. As coisas vão se renovar e, numa próxima esquina e num pequeno espaço de tempo talvez, novas escolhas vão chegar. Com novas propostas, novas experiências, novas descobertas. E aí veremos que aquela nossa metade no outro, que achávamos única e se foi, mudou de ângulo, se redescobriu numa outra e se reequilibrou. Um novo reencontro. Uma nova caminhada. Uma nova metade. Um novo encaixe. Com quem vamos ser felizes novamente.